segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Crônica de Francisco Sá

Artigo retirado da revista ENCONTRO, de dezembro de 1960




                                                       NATAL




ZORAIDE



Roger Caillois, sendo entrevistado por Rita Maxianic, mostrou-se pessimista ao discernir sôbre a civilização atual. Chegou mesmo a afirmar que somos sêres de cre­púsculo, vivemos nos entulhos.

Em parte, temos que concordar com êle, uma vez que, para todos, mundo ésinônimo de conflito, luta e inquietação. Depois, a maior parte dos homens é pela técnica, ao invés de ser pela sensibilidade. E enquanto o amor não é um sentimento universal o egoísmo regosija-se em sê-lo.

Entretanto, comemorações religiosas como o Natal vêm provar que nem tudo está perdido, que no espírito do homem há lugar ainda para emoções puras e nobres.

Embora tenham surgido doutrinas e mais doutrinas, entre si e, por vêzes, em si mesmas contraditórias — produtos de puro intelectualismo, que põe de margem a sensibilidade —, Cristo vence o mundo pela realidade do seu Amor. Se assim não fôsse, como então explicar essa. euforia que nos domina a todos por ocasião do Natal? Como interpretar a comovente poesia des­sas comemorações familiares tão intimas e tão pitorescas?

25 de dezembro é dia de amor e fra­ternidade. Ele nos vem provar que o universo é a morada de uma só familia, unida em Deus pela mesma fé.

Do Cristianismo nasceu a igualdade dos homens. Antes, nenhum principio uni­versal ligava os povos. As leis humanas estabeleciam diferenças absurdas entre os indivíduos. As religiões não davam ao ho­mem nenhum direito próprio, nenhum apôio. Mas Deus nos enviou o Seu Filho e tudo se fêz Luz: numa mangedoura, per­dida na estrada de Belém, nasceu Aquêle que viria abrir novos horizontes nos ca­minhos da humanidade. E é por isto que podemos contestar a afirmação do notável ensaista: o Natal, símbolo da fé impere-cível, aí está com a alegria de seu suave mistério, despertando em nossos corações impulsos de generosidade

Estejamos certos, portanto, de que, enquanto o Natal conservar êsse traço ca­racterístico de união e afeto, que o faz a maior e mais bela festa do ano, nada está perdido, tudo está nas mãos de Deus. E, se tle é tão complacente com as aves dos céus e os lirios do campo, porque o não será também com a humanidade?


Zoraide é jornalista,morando atualmente em Belo Horizonte

Um comentário:

  1. Olá Zoraide. Parabéns pela excelente, atual e oportuna matéria. Um grande abraço. Feliz Natal!!! Enoque A Rodrigues, de São Paulo, SP.

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